segunda-feira, 5 de janeiro de 2015


Há dias assim...
Tudo cheio... E ainda assim encho os pulmões com o pouco ar que Deus me tem guardado em caixas de música e respiro a luz da manhã. A brisa que traz o sol leva-me as lágrimas e lava-me os sonhos. Persigo as folhas com o vento, dou voltas sobre mim mesmo, círculos concêntricos sobre a vida e não lhe posso tocar... Esqueci-me da morte e dos seus parentes, mas até esses me guardam e aguardam pelo dia em que os pássaros voem para o Norte.
Sou pescador de sonhos e disso pouca gente sabe, só me viram a mim e às ondas afogadas em pedaços de mar e tormento que vêm dos meus traços. Um atum pode nadar até 64 km num só dia e eu continuo parado e preso a este Mundo, prisão que crio nos meus dias sob os meus passos.
Odeio ser peça de xadrez, mas na verdade é o que sou... Peão das linhas e guias que o destino traça em volta das coincidências do universo, pedaços de papel rasgado que nunca que se hão de juntar...
Gostava de ficar a ouvir os pássaros nas noites quentes de Verão, o chorar do recém-nascido que se ofusca com a luz crua que a Vida radia... Gostava de conhecer todas as cores, de continuar sempre a escrever, abstrair-me, fundir-me com a tinta preta e o papel e de conhecer o infinito e o que ele esconde.
Perder está tão intimamente ligado ao ser humano, que tenho medo de estar a ser cético e olhar o Mundo admitindo-o como verdadeiro com simples olhos mortais que acabam no pó da terra.
Provavelmente, o que estive aqui a escrever nem faz sentido, são números e traços que me inquietam como se rebentassem as sementes das árvores do meu jardim do Éden.
E na verdade são só dias assim...

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