Noutro dia vi uma notícia de um casal desempregado
com duas filhas com menos de dez anos.
Recebiam em conjunto 400€ dos quais entre despesas
de renda, água e luz sobravam por mês 5€... 5€!!! Às vezes o meu almoço é mais
caro...
Caíram-me as lágrimas quando a mãe diz que às vezes
a filha mais nova lhe pede leite com chocolate e ela lhe diz que não pode dar,
que não tem, que os 5€ muitas vezes não chegam...
Estava a almoçar enquanto ouvia isto... Perdi a
fome, os olhos humedeceram-se e o coração parou no tempo encurralado no espaço
das quatros paredes que lentamente iam desabando sobre mim. Cada vez que
engolia lembrava-me das mães e pais que tiravam o pão da boca para dar aos filhos
e da sopa quente que aquecia o dia de muitos portugueses hoje.
Não consigo escrever isto sem chorar, sem ter aquele
sentimento de revolta e de impotência que me queima a vida como cigarro que se
esgota entre dedos envelhecidos e sorrisos amarelos.
Hoje enquanto trabalhava (numa promoção em que se
oferecia um pão a cada pessoa) uma mulher que estava a pedir na rua veio ter
comigo e disse: "Bom Homem tenho fome... Dê-me pão para a mim e para minha
família por favor...". Tinha na cesta cerca de 20 pães, e quis que ela se
sentasse comigo à Mesa dos Pobres, onde se multiplica e partilha a Vida. Ela
abriu o saco dela, o pão foi caindo como a chuva que entretanto me lavava a cara,
o sorriso dela esboçou e rasgou o céu e deu lugar em si ao sabor das amoras.
Quando se foi embora, pensei para aonde ela iria, e
o que diriam aos seus 4 filhos, e nos milhares de pessoas que naquele momento
vivem do pó da terra como ela sob o olhar do deus ferido das arcadas da morte.
O exílio mental humano é o maior responsável do suicídio
das comunidades, da perda de sentido, da perda da Graça.
Continuo a chorar, desculpem...
Lá fora chove, acho que Deus chora comigo...
Amanhã dou-te um abraço e choramos juntos.
ResponderEliminar"Fazer Caminho" não tem fim, e Companis são todos aqueles com quem compartimos o Pão ou o pão. Ou 20.
Abraço.
Eu choro também convosco, Inês
ResponderEliminarSem Palavras... Um abraço.
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