Paro. Respiro. Ouço. Sinto.
Não há mais nada a não ser o
silêncio e os dias em que as arcadas da Vida desabam nos jardins do mundo. E o
negro... O negro que vai preenchendo as nuvens e afasta os pássaros dos olhares
do universo, da vontade do Homem, do amor de Deus.
Não sei o que sou, corro em
círculos. Devias estar aqui, devias estar no meu abraço... Palavras que o
sentimento não compreende...
Olhos de lágrimas, mares que
estendem no horizonte dos meus olhos onde navegas e és ser infinitamente
desconcertante.
Quando se conhece a Vida como
tu já não se teme a morte.
Hoje, antes de entrar para o
Exame li umas das tuas mensagens que me escreveste quando eu estava no Caminho
dizias:
"Paz e bem então hoje são
40 kms??????? Deus esteja contigo :-) Eu estou..."
Que Caminho incrível o que
fizeste, "minha querida" Mónica...
Tiveste que seguir para lá do
mar, onde a linha da terra acaba e a Vida começa...
|"A minha luta é para encontrar
o centro, o núcleo de toda uma infinidade de justificações, que
superficialmente parecem satisfazer-me e são, afinal, folhas caducas do meu
tronco. Determinar, numa palavra, que causa última me conduz, que força
polariza os meus atos. Mas estou longe dessa descoberta. Eliminei o divino,
porque era divino e eu sou humano; superei o pecado, porque viver sem pecado
era um absurdo moral; e consegui perceber que a vida não é trágica por estar
balizada pelo nascimento e pela morte, que são condições de existência e não
condenações dela. Contudo, nada resolvi. Continua a escapar-me das mãos a
sombra de um fantasma paradoxal. Uma sombra que é uma pura alucinação dos
sentidos, que sabem que apenas o real lhes merece crédito, e, sobretudo, da
razão, que sabe que a única consciência do mundo é ela própria, princípio e fim
de si mesma."
|Miguel Torga, in "Diário
(1948)
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