Não
tenho muitas palavras para ti neste dia 9...
Sou
um pouco mais de silêncio no barulho do Universo.
Já
se passou tanto desde que partiste e apetece-me tanto contar-te tudo. Entrar na
tua sala e ver a luz que entrava pela janela, que fazias janela do mundo e
visão da Humanidade. Apetece-me contar-te que entrei para Dentária, a praxe, o
que me custou não ter entrado para Medicina, o nosso Porto, que regressamos a
Itália, ouvir o "meu querido", o abraço forte e o sorriso que me penetrava
e me arrepiava o ser...
Mas temos Caminhos diferentes agora. Espero
ansiosamente um novo cruzamento.
"Eu
nasci para estar calado. Minha única vocação é o silêncio. Foi meu pai que me
explicou: tenho inclinação para não falar, um talento para refinar silêncios.
Escrevo bem, silêncios, no plural. Sim, porque não há um único silêncio. E todo
o silêncio é música em estado de gravidez. Quando me viam, parado e recatado,
no meu invisível recanto, eu não estava pasmado. Estava desempenhado, de alma e
corpo ocupados: tecia os delicados fios com que se fabrica a quietude. Eu era
um afinador de silêncios."
Mia Couto
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